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Documento do mês: Fevereiro 2024

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“Desenho de microestrutura do olho de Embolyntha batesi, de Dyrce Lacombe de Almeida”

Apresentamos por ocasião do dia das Mulheres na Ciência um documento que foi objeto de nosso projeto “Mulheres na ciência e na saúde: digitalização e difusão dos arquivos pessoais de mulheres do acervo da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz”. Trata-se de um desenho de autoria da pesquisadora Dyrce Lacombe de Almeida, com 25,5cm de altura por 23,7cm de largura, que compõem o estudo anatômico e histológico de uma espécie de inseto da ordem dos embiópteros, de climas tropicais e subtropicais. A espécie em questão foi coletada por ela própria na Ilha do Governador, bairro da cidade do Rio de Janeiro. Esse tipo de estudo aborda as interações entre estruturas e tecidos, bem como suas funções e a organização celular de uma espécie, por exemplo.

O desenho exerce uma função primordial e não pode ser substituído pela fotografia, mesmo que esta resulte em maior rapidez e facilidade de elaboração, somente o desenho, por meio de técnicas específicas como o sombreado, pode evidenciar estruturas e formas que não estariam tão claras com a captura fotográfica. Assim, a ilustração científica é um tipo documental recorrente nos arquivos de cientistas e representativo do fazer ciência, sobretudo em áreas da biologia, como a entomologia e a botânica. É um recurso visual de representação figurativa fundamental na pesquisa e desenvolvimento científicos. Muito presente no dia a dia dos laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), também faz parte da vida e trajetória de Dyrce Lacombe, pesquisadora nascida em 1932 no Rio de Janeiro.

Seu interesse pela ciência surgiu durante sua formação ainda no ginásio, sistema de ensino vigente no Brasil a época. Com suporte de Newton Dias dos Santos, seu professor no ensino secundário, ela participou do curso de extensão universitária em zoologia ministrado por ele no Museu Nacional e do curso de especialização em Entomologia Geral do IOC, ministrado pelo pesquisador Rudolf Barth antes mesmo de entrar na graduação. Dyrce fez parte da primeira geração de mulheres for¬madas nas faculdades de filosofia, ela se graduou como bacharel e licenciada em 1955 em História Natural pela Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) conciliando os estudos com o trabalho como estagiária no laboratório de Rudolf Barth. A partir desse momento, iniciou uma frutífera carreira de pesquisa junto ao pesquisador, trabalhando com anatomia e histologia de insetos, principalmente barbeiros.

Nos anos seguintes, manteve um vínculo com a atividade docente em diversas instituições e em 1960 ingressou nos quadros do IOC, primeiramente como bolsista do Conselho Nacional de Pesquisas e, depois, biologista e pesquisadora. Nessa fase, expandiu seu escopo de estudo para incluir crustáceos, com um interesse particular nos cirripédios (cracas), estabelecendo-se como uma autoridade reconhecida nesse campo. A carreira de Dyrce se destaca num cenário onde a atuação científica era predominantemente masculina e seu trabalho foi reconhecido pela comunidade científica brasileira em 1964, quando ela foi convidada a integrar a Academia Brasileira de Ciências. Dyrce desenvolveu uma ampla colaboração internacional: em 1967 recebeu convite do Osborn Laboratories of Marine Science (Nova York), para desenvolver pesquisas sobre os ciripédios e, em 1969, colaborou com a Califórnia Academy of Sciences na confecção de monografia sobre insetos da ordem Embioptera. Aposentou-se em 1991, mas permaneceu no IOC desenvolvendo suas pesquisas sobre cirripédios, embiópteros e histologia de barbeiros.

O projeto “Mulheres na ciência e na saúde: digitalização e difusão dos arquivos pessoais de mulheres do acervo da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz”, teve como objetivo dar maior visibilidade a esses arquivos e resultou na disponibilização on-line de mais de 4 mil documentos. Geralmente a digitalização privilegia acervos mais consultados e que estão relacionados a figuras consideradas de maior prestígio histórico. Assim os arquivos de mulheres seguem sendo pouco acessados e esquecidos, justamente por não serem objeto dessa atenção. A iniciativa do projeto procurou superar essa lógica que perpetua a invisibilidade das mulheres.

AUTORES DO TEXTO
Natalie Rickli Pimentel; Felipe Almeida Vieira

N O M E   D O  P R O J E  T O   D E   I B E R A R Q U I V O S :

Mulheres na ciência e na saúde: digitalização e difusão dos arquivos pessoais de mulheres do acervo da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

BibliografIa:

– LACOMBE, Dyrce. Anatomy and histology of Embolyntha batesi MacLahlan, 1877 (Embiidina). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v.69, n.3, p.331-396, 1971. Disponível em https://cutt.ly/YwCczKcy. Acesso em: 20 jan. de 2024.
– Lacerda, Aline Lopes de; Lima, Ana Luce Girão Soares de; Vieira, Felipe Almeida; Lourenço, Francisco dos Santos; Marques, Regina Celie Simões. A imagem a serviço do conhecimento: a entomologia nas ilustrações do acervo histórico da Fiocruz. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC, 2022. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/54874. Acesso em: 20 jan. de 2024.
– Oliveira, Ricardo Lourenço de; Conduru, Roberto. Nas frestas entre a ciência e a arte: uma série de ilustrações de barbeiros do Instituto Oswaldo Cruz. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.11, n.2, p.335-384, ago. 2004. Disponível em: https://cutt.ly/BwCcz6FO Acesso em: 20 jan. de 2024.
– Pereira, Rosa Maria Alves (org.). Ilustração zoológica. Belo Horizonte: Frente Verso, 2016.
– Rossi, D. S., Ferreira, L. O., & Azevedo, N. (2021). Sociabilidades intelectuais, mediação cultural e recrutamento de mulheres em instituições científicas no Rio de Janeiro (1940-1960). Estudos Ibero-Americanos, 47(3), e40388. Disponível em: https://doi.org/10.15448/1980864x.2021.3.40388 Acesso em: 20 jan. de 2024.
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